Pra quem é esta bala?

Sabe,naqueles dias em que estamos numa boa vendo televisão? Curtindo um noticiário numa boa? Pois assim, estava eu. Claro, antes de chegar em casa de pego a minha duplinha nas escolas. Acompanho nos temas. Ajudo no banho.... Preparo a janta. Depois solto as ferinhas para brincar. Uma menina de sete e um menino de três. Tiramos os sapatos ao entrar na porta, um costume japonês, aliás a minha esposa é japonesa. Ela chega depois de nós. A minha atenção é totalmente para os dois. Enquanto ajudo a menininha nos temas o bonitinho fica espalhando seus carrinhos e soldadinhos pela sala. Isso é normal...bonecas Barbie e carrinhos espalhados pela humilde e divertida casa. Enquanto a minha esposa não chega eu sou a bola da vez! Paiêê aqui...Paiêê..acolá! Mas é ótimo, me sinto o dono do pedaço, o chefe da turma, o Chef gourme, o capitão Nascimento! A minha esposa chega...esqueceram de mim! A tv na sala, só pra mim, hora do jornal na tv. Estico as minhas pernas. Relaxamento total. Uma tacinha de vinho tinto seco...normal. O Jornal começa, a notícia é bombástica! Sou mais um dentre os milhões na audiência da informação. Meus olhos não piscam, minhas mãos tensas, o meu corpo desaparece. A tv , a notícia, a sala, as crianças, a esposa e o tempo deixam de existir. Eu e a informação. Unidos no mesmo espaço e tempo. Ouço uma vozinha – pai desenrola esta bala? Automaticamente as minhas mãos obedecem. Sinto alguém me observando, inocente, a espera para receber algo maravilhoso. Desnudo a bala, sem saber o sabor e de que marca era. Lentamente minhas mãos jogam a bala para dentro da minha boca. Naquele mesmo instante ouvi uma fala aterrorizante. – Essa bala é pra mim!!! Como diz uma música: O meu mundo caiu! Voltei a realidade em milésimos de segundos, olhei para a carinha dela, surpreso...o que eu ia fazer? Perguntei se tinha outra bala e logo disse que pensava que era pra mim. Que sorte tinha uma outra...igual!